segunda-feira, 2 de novembro de 2015

5 Canais Negros Pra Você SAIR da Tv...

A vida mudou de cabeça pra baixo nos últimos meses, por isso parei de escrever. Mas é bom voltar. É preciso voltar. Então chego logo com uma postagem sobre o trabalho alheio, de irmãos que você deveria acompanhar. Gente preta, que utiliza as redes sociais pra disseminar a boa, ops, BOA informação. Todo mundo sabe que o You Tube é uma ótima ferramenta para construir conteúdos que a tv, paga ou não, nem de longe entrega. Quando o assunto é negritude então, fudeu né?! Mas se na tv você não se encontra, com pautas realmente interessantes ou  simplesmente por representatividade, no You Tube o bicho pega, com gente que faz caminhos um pouco diferentes...
Querido leitor, apresento pretinhos e pretinhas que deram cara a tapa e tão ai falando. Nem todos os canais são inteiramente contra o racismo, ou sobre cultura negra, mas você sabe MUITO BEM que o fato de um negro apresentar simplesmente um programa muda muita coisa. O porque? Por que o nosso corpo não é um corpo comum nas redes sociais, na tv, nos ramais da representatividade brasileira. Nossa imagem é política. Vendo eles, até deu vontade de transformar o Película em um canal hauahuuha. Quem sabe um dia! rs

Negritude Gringa:


Derivado de um blog (muitas vezes o caminho é esse), o canal do Rodrigo H, English Black Friday, é recente, mas com vídeos MUITO interessantes. Pra você que se interessa por cultura negra estadunidense é um prato cheio. Ainda mais com o ponto de vista brasileiro negro. Parece lugar comum né? Não é não! Do que chega de informação de cultura negra veiculada por brancos aqui no Brasil é de sobrar exemplos. Faz diferença ele ser preto? Claro que faz! Muito! E dentro de uma país onde a visão de latinidade é muito mais forte que a cultura negra fora dos espaços deles, aí o buraco é mais embaixo. A visão de um negão é primordial pra entender nossos irmãos de lá sem estereotipos, ou decifrando os mesmos... Dá uma olhada no trabalho do negão.



Cabelo Bom? Cabelo ÓTIMO!


Quer abandonar o barbeiro que corta o seu cabelo num corte quase rapando sua cabeça? Quer colocar seu cabelo pra cima? Não sabe quais cuidados tomar? Ô ninho, seus problemas A-CA-BA-RAM! Conheça Phils Monteiro, seu canal Fells Black e suas dicas sobre cabelo crespo. Sobre coroas crespas lindas! Na verdade minha relação vendo o canal do cara é de puro recalque. Essa minha calvice maldita que não me deixa ter meu black de volta aff. Fico vendo, maravilhado, mas desejando ter meu cabelo lindo grande de novo. rsrs Mas sobre seu canal, Phil é muito prático, direto, testa a eficacia dos produtos, preços, fala sobre saúde capilar, cortes, penteados. Tudo de muito bom gosto e feito com bastante cuidado. Dá uma olhada ae:


Cinefilia!!!



O Nego Nerd é um canal de crítica de cinema com um apresentador negro. Simples assim. Geralmente o Hudson faz críticas aos arrasa quarteirões que chegam aos cinemas brasileiros. Destaque para a parte técnica do canal. O cara realmente capricha viu! É divertido, carismático. A abertura mesmo, sempre um primor. Curto o nego nerd, pois ele não tá nem ai. Taca o pau nos filmes e não é daquele tipo de achar tudo lindo e muito bom só por ser Hollywood. Mas quando o produto é bom - ao seu ver - ele elogia de boa. rs



Poder de Preta!



Empoderada é a palavra do momento né? Nas universidades e nos meios de movimentos sociais é a palavra que domina. Já teve o tempo do "pós moderno", ou "contemporâneo", agora o negócio é empoderar! Então que a gente tenha poder mesmo. Principalmente as mulheres negras. O canal é voltado para o empreendimento de negras pelo Brasil e feito pelas negonas Loyce Prado e Renata Martins duas cineastas. É também um canal novo, mas desde já, o primor técnico é também um diferencial. Na verdade Empoderadas é uma web série que esta apenas na sua primeira temporada. Como o poder de um dá abertura para o poder de muitos, o canal visa mostrar mulheres negras que são exemplo para outras e abrir o debate sobre feminilidade e negritude no Brasil.



O Sonho Dela É Nosso Também!



Ana Paula Xongani está aqui depois das Empoderadas de propósito ok?! Por que? Para provar que de um bom canal, pode te ajudar a conhecer outras coisas boas. O Empoderadas me levou a conhecer a Xongani. Veja bem, esse sorriso largo dessa mulher da foto, veja essa energia que emana a imagem estática... É essa boa energia que você verá em seus vídeos, sobre muitos assuntos ligados a nossa negritude. Ela senta em frente a câmera e fala e fala e fala e acredite, tudo o que ela fala é importante e fundamental. E lindo. E bom. E positivo. A Xongani é uma marca estética, mas seu canal vai além da mostragem de seus ótimos produtos.


domingo, 17 de maio de 2015

Percepções sobre Velhices e Negritudes...



Eu - E ai minha mãe, gostou da médica?
Minha mãe - Gostei sim! Ela é pretinha que nem a gente né? Entende de nossos problemas...

Minha mãe voltou a morar comigo. Anos atrás deu um surto - merecido - de liberdade e voltou para o interior, fugindo da capital e do furdunço da cidade grande. Foi parar em uma cidade com pouco mais de 30.000 habitantes. Vida tranquila, qualidade nos alimentos, na diversão, na tranquilidade, foi ter a vida que sempre sonhou. O filho estava criado, formado, com emprego. Na cabeça dela, a parte dela ela tinha feito. E na minha cabeça, a parte dela ela fez mais que bem feita. Viveu na sua terra natal por um bom tempo com sua cachorrinha, rodeada de plantas, numa boa casa. Parentes por perto. De uns tempos pra cá, a diabete e a hipertensão começaram a pegar mais pesado e resolvi chamar ela para ter minha cia novamente. Ou seja, atualmente ela mora comigo e estou cuidando de minha mãe. O filho virou um pai chato e auto protetor - coisa que minha mãe nunca foi comigo rs. Eu que queria uma filha, ganhei logo uma com mais de 60 anos... Mas o que isso tem a ver com o assunto do meu blog?
Minha mãe é preta ué... E não pude fechar os olhos para o novo mundo da terceira idade. Sendo minha mãe uma mulher negra e agora velha (eu não tenho problema algum com o termo, nem ela, você tem?...), o mundo racista apresenta algumas configurações próprias. Não, ela não sofreu discriminação, e espero que nunca passe por isso depois de idosa, mas arquétipos do racismo sobrevoam feito urubus o novo mundo que a mim se apresenta. Impossível não reparar...
Primeiro, ao acompanhar minha mãe aos médicos, reparo que 90% deles são brancos. Sempre que falo a minha profissão e a de minha mãe, não conseguem esconder a forma pitoresca que nos tratam. Primeiro, a pena social. Nos aliam logo a periferia. Ok, venho da periferia. Mas qual o estigma que carrego pra ser aliado logo a essa parte da cidade? Ganha um doce quem descobrir! Pois os brancos sabem onde moramos não é?... Segundo, eles nos olham, não sabem bairro, nada, nao perguntam, nem olham a ficha direito, só veem nossa cara e pimba: o SUS e remédios mais baratos são logo colocados na mesa, como caridade. Eu dou risada, um sorriso misto de sem jeito e raiva e digo que minha mãe tem plano. ELA TEM?? Sim, sou professora aposentada! AH É? Diz o médico que dentro da sua cabeça faz um esforço enorme para não divulgar a idiotice que fez até então, mas... tarde demais! Imediatamente os remédios começam a subir, o numero, o preço, tudo! E o tratamento é outro! Mesmo que por vezes o estranhamento venha mesmo assim...
Segundo: na sala de espera, como minha mãe é atendida em clinicas dispostas em bairros nobres da cidade, todos os clientes são brancos, principalmente se determinada especialidade médica não for contemplada pelo plano e preciso ir para um particular. Fico pensando sempre, no posto medico do governo, perto de casa e suas intermináveis filas, com gente negra debaixo de chuva, de madrugada pra pegar uma ficha pra ser atendida por um médico que nem sabe se vem pela tarde ainda... Bem diferente do endocrinologista e seu consultório com ar condicionado, tela plana, wifi para clientes, poltronas confortáveis... O mundo é outro meu caro...
Terceiro: o mundo da velhice é um mundo de solidão absurda. Sempre sou chamado a atenção por médicos, recepcionistas e pelos próprios pacientes, que como filho, faço aquilo que muitos, muitos mesmo, não se dão ao trabalho de fazer. Cuidar e acompanhar o pai ou a mãe. Comecei a achar, no alto da minha frieza que "velho é tudo carente", pensei assim dessa forma diabólica! Mas depois, o filme de terror das clinicas começou a me perseguir. Gente que precisa de ajuda pra se locomover sozinha, homens e mulheres extremamente frágeis dependendo da ajuda de estranhos na rua, nos consultórios, preocupados com a própria saúde, pois os parentes não tão nem ai pra eles... Tem gente com 4, 5 filhos que mais parece ter nenhum! E as acompanhantes são muitas vezes as únicas Cias dessas pessoas.
Quarto: Voltando ao inicio da postagem, Um médico preto faz diferença sim. Ao menos um médico preto com vergonha na cara. A tal médica de minha mãe, soube levar ela a um bom estado e coloca-la a vontade. É uma das poucas que minha mãe sorri antes de ir ao consultório. Não é só educação formal... Vai além sim!... É identificação! É uma médica onde a angustia dela vais er levada a sério. O tratamento biológico fica até mais fácil. Não digo, médico negros para negros. O que eu digo é a sensibilidade de um ou uma que saiba de quem ele está tratando. A população negra passa por coisas que outras não passam... Mas nem todos tem sensibilidade para enxergar!...
Minha mãe, aviso logo, nunca militou em qualquer área que seja. Nada de ongs, nada de movimentos, NADA! Não conhece quem é Bell Hooks, nem Angela Davis, Sueli Carneiro, nada, mas é uma das feministas mais bem estruturadas que conheço e uma guerreira contra o racismo.
A boa educação dessa médica negra, contrasta com o total despreparo da médica que atendeu minha mãe no tal posto médico em uma das emergências que passei com ela. O vocabulário, a forma como atendia sem chegar junto a minha mãe, a forma como não se importava com as pessoas... Sim ela era branca! E não é uma característica própria dos brancos tratar mal gente preta, mas a maioria absoluta dos pacientes do subúrbio são negros... e aí, como não pensar em despreparo desse povo? Estou falando dos médicos!...
Quando passo para ir ao trabalho, vejo a  conversa dos estagiários médicos (quase todos brancos) e enfermeiros do posto. Que o povo é sujo, que eles não querem ficar no serviço publico, das noitadas do fim de semana e da nefasta obrigação do trabalho... Por isso o povo da minha rua se mata de trabalhar, mas no tal posto fazem um esforço ENORME para não ir...
E quinto: pessoas velhas transformam o pouco ou muito carinho que você entregar a elas em um tesouro formidável. Muitos deles são abafados em todos os lugares que estão. São lentos sim, se pensam diferente, o corpo é outro ué, mesmo as vezes pertencendo a chamada terceira idade ativa. Nosso mundo não se acostumou com a ideia que um dia vai envelhecer. E sai atropelando tudo e todos diferentes a eles. Por isso, um que construa um sorriso sincero, uma ajuda na rua, ao abrir uma porta pesada, a pegar algo do chão, a tentar parar o carro pra mesmo, em sinal aberto, deixar o senhor ou senhora passar... Eles vão transformar vc em herói do dia! E ajudar esse povo é legal! Sim, alguns deles são rabugentos rsrsrsrs, mas fazer o que né?! Idosos são gente com defeitos e qualidades, não vá pensando que os defeitos somem conforme a idade avança...
Essas percepções me chocam. Nosso mundo é acelerado demais, injusto demais, frio demais, louco demais... E os velhos como estão nesse mundo tão rápido? E os velhos negros? Por que se o racismo não te atingiu "ainda" uma hora você pode acordar... Mesmo que seja depois de velho... Se tem uma chance de começar a cuidar de sua velhice, como ouvia minha mãe dizendo anos atrás, faça desde agora Porque o futuro pra quem é preto e pobre, ou pra quem é simplesmente preto não é nada fácil... Mas juntos ficamos mais fortes! Um confortando o outro. Pois velhice não é atraso. É persistência, é guerrilha, é história... é AMOR!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Voz Talismã - Ao Vivo por Margareth Menezes

Muito se fala da injustiça do mundo do entretenimento brasileiro com Margareth Menezes. Muito se diz que se fosse em outras partes do mundo, até partes dominadas por brancos, o talento dessa formidável cantora seria reconhecido. Sim, o bom e velho racismo que nos incomoda e chega também ao mundo da música. Para Margareth o caminho parece difícil, mesmo vendo que em 25 anos de carreira ela é dona de uma voz marcante, sucessos estrondosos e é uma artista múltipla. Atriz, cantora, produtora, Maga, como é chamada aqui em Salvador, é uma cantora que rema contra a maré. Acho que todas as artistas negras são assim aqui no Brasil. Mas no caso da Sra Menezes sua carreira é símbolo da persistência perante o desgaste do axé burro, do sertenejo que invadiu as rádios da Bahia e do pagodão dominado por homens e que faz da mulher puro objeto sexual. Nesse DVD Voz de Talismã – Ao Vivo, construído a partir de sua concepção, todas as referencias de Maga em seus 25 anos se encontram em um só trabalho.
Um só trabalho dividido em 3 partes:  A primeira, o show na Sala Principal do Teatro Castro Alves, reduto tradicional da arte soteropolitana, Maga entrega nesse show sua faceta “intimista”. Vê-se uma cantora mais “calma” no palco, arrancando suspiros do púbico ao entrar da plateia cantando Cordeiro de Nanã e logo depois passeando seja por clássicos da MPB como Fé Cega Faca Amolada/ Escritos nas Estrelas/ Toda Menina Baiana, ou entoando seus próprios clássicos como a canção Marmelada e sua crítica ao mito da democracia racial, Vou Mandar e a reinvenção de Alegria da Cidade. Neste meio tempo, Maga mistura Emboladas de domínio Público e arrasa na sua roupagem para Coco do M. Fora o ápice do show quando ela interpreta Acará e explica a origem e a feitura do bolinho mais famoso da Bahia: o acarajé.
Na Segunda parte, estranhamente disposta no DVD como bônus... Vemos a Maga dos hits Dandalunda, Faraó, Selei meu Cavalo Selei, Toté de Maianga e Elegibô, todos interpretados com força na Concha Acustica do Teatro Castro Alves, onde se pode fazer o clima de carnaval perfeito para este tipo de identidade da cantora. Mesmo não sendo intimistas, os hits de Maga são canções fortes, de letras extremamente contundentes, difíceis até de cantar, mas que todos em Salvador sabem a letra. Duvida? Então acompanhe o publico cantando trechos que embolam a língua dos desavisados, com incrível facilidade. Destaque para o hino soteropolitano Faraó Divindade do Egito...
A terceira e ultima parte mostra o mini documentário, onde, no mesmo show da Concha Acústica, os artistas convidados (Paula Lima, Ile Aye, Filhos de Gandhi, Cortejo Afro, Gilberto Gil, Elba Ramalho e Daniela Mercury) falam sobre Margareth. Cenas dos bastidores e do publico ainda enchendo a Concha são vistas em contraponto ao depoimento e a chegada dos artistas. É justamente aí que se enxerga o único defeito do DVD, não incluir suas atrações no repertório oficial. Uma pena, pois canções que já nasceram clássicas como Oya Por Nós – parceria de Maga e a Rainha Má – ficam de fora sem motivo aparente...
Do mais, a concepção impecável do dvd dá destaque ao publico também como artista. Por que Margareth convida com sua voz, o publico a dançar com seus ancestrais. E com sua voz, todos se contagiam, quem está no show por pura diversão e também os que lá estão a trabalho. Entre uma cerveja e outra servida, entre uma pipoca e outra dada à cliente, as câmeras mostram os trabalhadores se divertindo e se contagiando com a voz inconfundível de Maga.

Sim, ela merecia mais. Muito mais! Mas tem um publico fiel. Forte, igual a sua voz. Que reconhece seu talento e seus anos e anos de carreira. Eu sou um deles. Tenho este dvd e não me arrependo, pois é um trabalho primoroso. Vida longa a música e ao axé da Senhora Menezes.

segunda-feira, 23 de março de 2015

APERTE O PLAY: Titica: Você Me Manda Fogo

Titica retorna da forma mais sensual possível. A presença e o sucesso cada vez mais crescente de Titica no cenário da musica africana e mundial é de uma importância tão grande que acho que nem ela se dá conta disso!
Esse clip não tem muito o que falar não. Só ver e ficar chocado com o crescimento artístico da artista e também pela sua coragem. Porque toda diva sensualiza, então ela que é uma também tem seu direito...


domingo, 8 de março de 2015

Sobre quem está começando...

ps: esse post não foi feito para agradar...

Dia desses, acabei cruzando com um amigo militante dos mov negros, um pouco mais velho que eu, ele já estava meio nervoso quando o avistei pela caminhada, parou, falou comigo, desatou a falar sobre o que o afligia naquele momento.
Um novo militante novo, “quebrando o pau” com ele em um debate dentro da universidade sobre cultura negra, apropriação cultural etc etc. O negocio ficou ainda mais acirrado quando, o tal menino de cabelo black quis dar um belo sermão nele, pois este meu amigo a tempos não deixava o cabelo crescer. Depois de tudo, de explicar todo o processo da criatura, de como entrou, de como se comporta, de como coloca seus conceitos... ele olhou pra mim, querendo uma resposta. Eu não pude infelizmente dizer outra coisa que não fosse: “Ô amigo, isso é super normal! Relaxe!”
Super normal o processo de violência. Eu era assim, você era assim. Muitos quando “acordaram da matrix” eram assim. Você se reconhece como negro, muitas vezes tendo passado por um processo de invisibilidade fenotípica, vê o processo que passou e agora quer falar, seja de que forma for... Nunca se reconheceu como branco, mas negava sua negritude, ou de uma forma silenciosa ou negando abertamente. Ou se considerava negro, mas não ligava para o racismo. Sei lá, cada um tem a sua história. O importante é que ele acordou  agora quer falar...
Também há a explosão de conteúdos negros do sujeito em redes sociais, ou sobre o que ele lê. Estamos na geração do compartilhamento. Descobri quero mostrar. Mesmo que isso seja apenas, “quero mostrar que li também”. sua time line vai ser inundada pelo novo militante, de conteúdos sobre negritude. Muita coisa você já leu, você já sabe, não é de hoje, mas ele não ué. Se voce for na time do sujeito, ao que parece ele só lê sobre isso. E muitas vezes ele se restringe a esse ponto, pois o mundo que ele agora quer conhecer é vasto demais... E a geração nova é pior que a minha, quer tudo ao mesmo tempo agora...
Seguindo, tem uma coisa que eu acho muito, mas MUITO engraçada. O sujeito acha tudo o máximo. Lê um texto e posta que o escritor “brocou”, “sambou”, “arrasou”, usando os adjetivos que geralmente eu vejo nos posts, muitas vezes o argumento é batido, ou repetitivo, ou 8000 pessoas já pesquisaram sobre aquilo... Tem o processo da descoberta, que não se tem um arquivo de leituras grande, ou médio que seja, mas há um defeito ai. A nova geração lê pouco. Prefere ler artigos a ler livros. Na minha os professores já reclamavam disso, imagine hoje... Voce lê um capitulo, fica longe de ler monografias, teses, dissertações, livros. Lê-se muito os títulos e não as reportagens inteiras, abre 3, 4 5 janelas de textos as vezes muito complicados e não se concentram em nada.
O ataque ao branco é um ponto forte que vejo. Isso não tem nada a ver com racismo ao contrario. Tem a ver com o massacre que até agora veio a mim e que agora eu destino ao outro como resposta. Muitas vezes, vejo em posts e em grupos que participo discussões acirradas sobre o branco, ou brancos amigos que não são racistas, ou todos os brancos são racistas. E aí começa o quebra pau entre negros por conta da branquidade alheia. Fico me perguntando o que eu faço para tirar o branco racista dentro de mim? eu ataco meu amigo, pois nele enxergo algo meu, não consigo trabalhar em mim e entrego a ele minhas frustrações para ele também resolver? Isso faz de mim militante de que?...
É inevitável o confronto com as gerações mais velhas. Com os trintões ou com os quarentões, que seja. São formas diferentes de ver a negritude, são racismos diferentes experimentados. Esse confronto sempre acontece, inerente ao posicionamento racial/social. Isso acontece dentro de casa, na universidade, no trabalho etc...
Com o tempo, as coisas vão abrandando. O sujeito vai se descobrindo. O que é ser negro pra ele? Todos os negros são iguais? Experimentam de coisas iguais? Como é o processo da diferença dentro da diferença? E as minhas referencias brancas? Eu as tenho? O que faço com elas? Todas as referencias negras me representam? Se não, o por que isso? E o que fazer com o sexismo negro, com a homofobia negra, com o machismo negro? Afinal de contas todos temos PRE-conceitos ué, somos humanos... E o meu racismo interno? O que faço? Como se dá o processo da minha desconrrução? Por que construir e fazer discurso todos sabem, desconstrução é um outro processo que nem todo mundo está preparado para passar... Uma das coisas que vejo também, é a descoberta e consequente decepção, que nem todo mundo é tão santinho quanto parece. Aquele cara dono do artigo “brocante”, na verdade é um escroto com a namorada. Ou o militante de cultura negra, critico de relações inter raciais alheias, mas pouco resistente quando o assunto é branco na cama dele...
Feita essas e outras perguntas, respondidas algumas outras não, o sujeito começa a mudar. A se reformular. Ao invés de militar por tudo, pega foco em uma área. Começa a ver outros mundos, ou se aprofunda em sua cultura, mas de uma forma mais solta. Passa a ver que nem todo mundo vai pensar igual a você, mas pode lutar de uma forma diferente. E uma coisa importante: passa a ter humor! A negritude não é apenas sinônimo de racismo, de ataque ao branco, é também, amor, alegria, sorrisos, abraços, fortaleza.
Meu amigo olhou pra mim, se viu em muitas coisas que disse. Ele era assim. Eu era assim. Voce provavelmente também, ou conhece alguém que fez isso... Com o tempo a gente vai se encontrando. Eu mesmo me encontrei a partir da decepção de gente que desistiu. Militante fervoroso que não aguentou o rojão e simplesmente virou as costas pra tudo que acreditava. Por uma série de motivos. Mas desistiram. Ou enlouqueceram, ficaram doentes pelas mazelas da militância. Não queria isso comigo. Isso significa que sou superior a alguém? NOT! Rs Isso quer dizer uma coisa só: em-ve-lhe-ci! E olha que estou longe de ter 40 e poucos viu...
O racismo vai acabar por conta de que cresci? Não também! só vou reparar nele de formas diferentes. Hoje sei que não devo falar em determinados lugares, com determinadas pessoas, algumas delas negras e tal, por que o movimento será contraproducente. E desgastante. Isso não me afasta de dar de vez em quando um chega pra lá, “me respeite”, em certos colegas, mas minha visão vai para outras instancias. Ignore, melhor que encher o bucho de losartana potássica por conta do nervosismo rs...
Tem gente por ai com muito mais preparo que eu! Estou em um tempo de minha vida que reconheço muito mais luta contra o racismo fora da academia que dentro. Moro em uma favela e vejo meus vizinhos que nunca ouviram falar de Fanon lutando para desconstruir a cabeça do filho, o educando e preparando seus pimpolhos para o mundo.  Fui educado por mãe que nunca leu Alice Walker, mas os conceitos que ela desenvolve em seus livros minha mae fazia direitinho. Reação em cadeia? Não sei... O nome disso é o sentimento negro solidário brotando em si!!!
Nem todo militante novo é assim. Friso também que a palavra novo, nao necessariamente pode ser atribuída aqui a pessoas de menos idade. Pode ser um novo quarentão etc...

Despedi do meu amigo, antes disso vi um sorriso brotando do rosto dele. Ele se reconheceu no menino que o atacara. Ele também já foi daquele jeito, e as vezes até é com gente mais velha que nós. O conflito existe. Sempre vai existir. São visões diferentes sobre o racismo, ele se transforma, da forma mais inteligente e diabólica possível. Nós que muitas vezes paramos no tempo. Pois é cômodo sermos senhores. Mas é melhor baixar a cabeça... para que o racismo não seja os senhor do nosso tempo!...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Selma, por Ava DuVernay

Luther King sempre foi evidenciado como pacifista. Sempre! Principalmente em relação a seu opositor ideológico Malcolm X. Sempre que Malcolm é citado como errado, equivocado, Luther “surgia/surge” como a solução para todos os problemas. Luther é o homem que luta, mas pacificamente, sem armas, sem incitar a violência, sem meter medo nos brancos, sem ameaça-los. E o melhor, Luther King sempre é evidenciado por lutar ao lado dos brancos e ser um líder cristão.
Sempre desconfiei dessa imagem. Pois a luta contra o racismo é algo extremamente violento. Psicologica ou fisicamente, é violência pura. Para mim, infelizmente não há como escapar. E também desconfiava que essa imagem de eterno pacifista passivo era uma imagem branca. Quando comecei a ler mais sobre a história de ícones negros, me identifiquei com Malcolm e deixei King de lado... Como muitos que seguem King deixam seu “rival” também para escanteio... Aos poucos, King e sua imagem passiva foram destruídas. Um texto daqui, um argumento de lá...
Até que chego em Selma, produção que esse ano concorre aos Oscar de melhor filme, e minhas suspeitas sobre King se confirmam. A luta contra o racismo é sim algo extremamente violento. Seja ela feita pela paz, ou pela força...
Selma é o nome de uma cidade, do interior do EUA. Pequena, mas com cidadãos negros querendo exercer seu direito de votar. O ato simples é orquestrado com a perfeita cena de abertura em que uma mulher, vivida pela produtora do filme Oprah Winfrey, tenta tirar o que seria o “título de eleitor” e também uma permissão para o voto negro. A cena, pontuada por um silencio insuportável e planos extremamente fechados, detalha bem a angustia motivada pela humilhação!
Luther King vê em Selma um ponto crucial para a aprovação da ementa que faria negr@s cidadãos plenos em direitos. Sabemos que em uma República o ato de votar posiciona o homem ou mulher como cidadãos perante a sociedade. É justamente o ato de votar que tiraria o negro do ostracismo, acredita King. Para isso, o pastor se encarrega de fazer pequenas marchas pela cidade e também para a capital do estado do Alabama.

A politica estadunidense, branca e racista em seu cerne, tenta evitar – inclusive usando o FBI – a formação ou avanço das marchas de King. Mas o que eles não contavam é que todo homem pacífico é antes de tudo um grande estrategista. E King era inteligente o suficiente para edificar tudo a seu favor.
É aí que volto ao ponto inicial do texto, quando falo que minha desconfiança com King é comprovada em Selma. O pastor poderia ser pacífico, mas a violência era algo forte que cercava ele por TODOS os lados! Uma das cenas exemplo, é o resultado da primeira marcha que vai até o tribunal da cidadezinha. Luther em pé, quieto e o pau comendo. O racismo incita raiva, ódio, traumas, revolta... E muitas vezes isso ele não poderia controlar...
A condução desses momentos tensos e de cenas de extrema leveza são feitos com mãos firmes da diretora Ava DuVerney (condutora de episódios da série Scandal na terceira temporada), indicada merecidamente ao Globo de Ouro de Melhor Direção. Ava pega um recuso bastante usado no cinema, a violência explicita em câmera lenta e reconstrói a sua forma. Ela arrasta o movimento, mas não o esmiúça. Foca, em pontos que outros diretores não dariam atenção. Isso se vê em momentos da explosão numa casa onde crianças negras conversam sobre cabelo, ou no massacre na ponte, ou na morte dos brancos apoiadores de King. Ela mostra a violência de forma singular. Compreende que a violência que cerca King e Malcolm são diferentes. Outro fator peculiar é, Selma ser um filme de homens. A politica, principalmente a do século passado, foi um ato cercado de masculinidade. E Ava conduz o testosterona da forma precisa. As contradições masculinas são jogadas na tela sem desvios.
O que me incomoda em Selma é justamente culpa da diretora espetacular. Centrou-se em seu ator principal, nos registros do FBI sobre King para pontuar a história com veracidade e se esqueceu do elenco masculino branco... Ok, esquecer é um verbo forte, mas me incomoda muito essa coisa de filmes históricos falando sobre racismo ainda deixarem os personagens brancos racistas serem interpretados de forma caricata. Como se dissesse “Olha, estou dizendo coisas ruins, fazendo coisas ruins, olha como sou mal”. Se apresenta as contradições negras com maestria que tomasse cuidado com os personagens brancos, aqui separados – novamente – em bons e demônios.
O único que se salva dessa papagaiada é Tom Wilkinson fazendo o presidente Lyndon B. Johnson. Seu trabalho é minucioso, mostrando a incoerência de um homem branco passando por um processo anti racista dentro da sua consciência. Perfeito! E a forma como ele conduz a politica a favor dos negros, mas tirando ele da reta, é um ponto impar no filme.

Carmem Ejogo, ou Coretta Scot King, faz de seus momentos algo grandioso. Adoro isso no cinema! Duas cenas suas chamam atenção; o encontro com Malcolm X e a descoberta das traições de King com outras mulheres... Ponto forte do filme. King tinha defeitos. Seu social e o humano tinham falhas. O filme passa e não passa por cima disso, só vendo para entender...
Mas o filme é mesmo de David Oyelowo. Protagonista! Contido! Ele nunca deixa King crescer mais que o texto, mais que a câmera, mais que a grandiosidade das marchas. E se torna gigante justamente por isso!

Selma é antes de tudo um filme sobre violência. E de como vencer os caminhos violentos, usando de várias armas... A estratégia é uma arma. A calma também. a analise é uma arma. A diplomacia outra. A paz pode ser uma bomba de proporções gigantescas, mas acima de tudo, ela não é um ato passivo. E nunca será!


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Us³ em Elefante por Max Goggino

O rap/hip hop não tem humor! Pouquíssimas vezes vi um exemplar com espírito mais despretensioso no sons pela cidade ou pelo país. Os ritmos são muito ligados a seriedade, ao protesto. Quando poucas vezes pretende sorrir é para ostentar. Não que isso torne o rap ou o hip hop algo chato de ser ouvido, muito pelo contrário, a seriedade foi quem os fez crescer e tornarem-se o que são hoje! Mas é uma constatação, muitas vezes não há espaço para o humor nesses ritmos. Com a chegada das mulheres o rap ficou mais leve e mais precisamente com as novas gerações o que interessa ao Mcs vai além do protesto, ou o protesto pode ser feito de infinitas formas...
Para o Us³ (banda soteropolitana formada pelos músicos Sr, Ranneo, Mc Kdu, D. M Jay), o hip hop tem sim humor. Bom humor! Um humor tipicamente baiano. Mas que pode muito bem ser compreendido pelos que curtem hip hop pelo país. Max Goggino dirige e muito bem a história do cara fracassado que vê sua vida desmoronando até quando confessa sua sofrencia para os amigos. As imagens vão além de ilustrar a letra despretensiosa do Us³. Elas acrescentam, arredondando o personagem para quem vê o clip e assim diverte o espectador.
Outro ponto, que não deve-se deixar de lado é a produção do clip que é muito bem feita. Já vi muito clip de rap ou hip hop ruim de doer com produção requintada. Com Elefante, o Us³ acerta logo em seu primeiro clip, mostrando identidade, aliada ao humor, sem perder a veia e a batida do som que estão dispostos a fazer.
Leandro Rocha (do espetáculo Negreiros 2) faz o papel do tal Elefante, cidadão que tenta acertar na vida e nada, NADA dá certo no seu caminho. O clip conta com participações de Evana Jeyssan ( que concorre ao Brasken deste ano como Atriz Revelação por As Confrarias) e Marcos Oliveira (diretor de Domingo no Parque).
Confira o clip abaixo:




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