terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

PRECIOSA.

Preciosa não é um filme qualquer. Não tem como você sair imune deste filme. Sabe aquele filme que te pega e te vira pelo avesso? Aquele que te dá um golpe certeiro na garganta e te deixa quieto, pensativo, triste, mas ao mesmo tempo esperançoso? A ultima que me senti assim foi em Distrito 9 (que como Preciosa também concorre ao Oscar de Melhor Filme este ano) e o documentário Olhos Azuis. Preciosa também me fez chorar (de tristeza mesmo! Além de fazer chorar quem estava do meu lado no cinema), me fez ficar congelado de tensão, mas o mais importante, por mais que o filme exprima dor ele nunca faz você ficar em revolta ao ponto de estar desinteressado por ele. Preciosa cativa.

O filme dirigido por Lee Daniels primeiro cineasta negro a ter um filme seu concorrendo ao Oscar, além de também concorrer na categoria de direção – conta a historia de Preciosa, uma garota negra, obesa, pobre, analfabeta, que sofre de violência domestica pela mãe, tem 16 anos e está já na sua segunda gravidez, sendo que a primeira filha tem síndrome de down e vive de planos de assistência do governo, isso tudo em 1987 nos EUA. Preciosa é tímida ao extremo, completamente um burro de carga dentro de casa, sendo obrigada a comer compulsivamente comidas nada agradáveis pela mãe, é humilhada em todo canto que chega. Uma outra característica que chama atenção é o fato dela olhar sempre pro chão, nunca para frente de cabeça erguida evidenciando o grau de submissão perante a sociedade. Preciosa não enfrenta as circunstâncias, não tem forças para isso, muito pelo contrario, ela se entrega totalmente e torna-se um protótipo de solidão, amargura e estima baixa. Para escapar da vida horrível que leva Preciosa sonha com um mundo da fama cheio de acontecimentos e com um namorado de pele clara. E sim, existem outros problemas que Preciosa vai enfrentar que não me atento contar aqui...

Mas não se engane, Preciosa não é do tipo de filme de um personagem “Zé ninguém” que consegue dentro de duas horas se safar de todos os problemas existentes e dar uma lição ao publico de que tudo de ruim pode ser superado. Preciosa encanta justamente por trazer o contrario. O que ela ensina a nós publico é uma outra lição, não vou entregar o filme – você vai ter o prazer de ver essa maravilhosa produção – mas como já diz o cartaz, “A mais longa jornada começa com o primeiro passo.”.

Produzido pelos dois Midas norte americanos, Oprah Winfrey e Tyler Perry, que dispensam apresentações, o filme está concorrendo a seis Oscar, filme, direção, atriz, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e edição, todas as indicações são merecidas. O de filme Preciosa não leva infelizmente, pois tem candidato mais forte/mais cara da academia este ano concorrendo junto com ela, além que tem Avatar que não deveria ganhar, mas pode dar o ar de sua graça com o premio principal. Apesar do belo trabalho, Lee Daniels pode não ganhar para o ótimo trabalho de Quentin Tarantino com Bastardos Inglórios. A estreante Gabourey Sidibe apesar de interpretação avassaladora pode não ganhar para o furacão papa premio Sandra Bullock com Um Sonho Impossível. Já com o premio de Atriz Coadjuvante a comediante Monique pode levar o Oscar, sua intepretacao é muito bem feita, tem só em Vera Farmiga de Amor Sem Escalas uma grande concorrente. No caso de roteiro adaptado o academia também pode dar a Geoffrey Fletcher o premio sem problemas, é de longe o melhor dos concorrentes.

Mas independente dos prêmios que ganhar ou não, e olha que já ganhou uma infinidade, Preciosa vale muito a pena pelas lições que projeta no espectador. Não é um filme de lições de moral, mas para cada pessoa vai inserir um sentido diferente. Mesmo que você seja completamente diferente da protagonista. O filme vale muito a pena, é bonito, não cai no melodrama fácil, não é em nenhuma parte um filme didático, é seco, difícil de engolir, mas mesmo assim é a experiência cinematográfica mais feliz que tive em anos. Perdoem o trocadilho, mas Preciosa é um filme precioso, realmente.


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